Cristiane Lemos
2 min readJun 24, 2024

Alguém do décimo quinto andar do prédio de frente ao meu, decidiu quebrar a monotonia da fachada bege, estendendo um pano vermelho na sacada.

Seu gesto anárquico, rompendo as regras de boa convivência entre os condôminos, me chamou a atenção, assim que meus olhos cansados de tela, buscaram um pouco de alívio na paisagem que consigo vislumbrar.

Algumas casas de vilas, mas basicamente muitos prédios, para todos os lados, até perder de vista. Mas tem também agora o ipê rosa que desabrochou por trás de uma das construções. Vestígios de uma fábrica desativada e a fumaça que sobe de uma plena operação. A parte mais alta da igreja que fica na praça do bairro. E carros indo e vindo, sem que eu nunca saiba para onde, em uma avenida movimentada.

E agora o pano, que se faz presente. De ponta a ponta da grade que cerca a varanda. Daqui, não consigo identificar se é um tapete, um endredon ou um lençol.

Só sei que alguém cansou de esperar que ele secasse no varal da micro-área. E quer aproveitar esse sol quente que decidiu reivindicar território em pleno inverno Paulista.

Só sei que esse alguém decidiu ignorar as possíveis reclamações e uma consequente multa.

Só sei que alguém quer que esse pedaço de tecido fique seco o quanto antes. Não obstante quantas regras tenha que quebrar para que isso aconteça.

E na paisagem cinza e bege, ele acomodou-se, fazendo companhia ao ipê dissonante, trazendo um novo tom a segunda-feira que segue.