Tudo começou com vermelho Monet

Cristiane Lemos
3 min readMay 24, 2024

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Tudo começou com Vermelho Monet, um filme nacional que decidi pagar para ver se realmente valia a pena. De qualquer forma, com a Maria Fernanda Cândido no elenco, parecia no mínimo interessante. E de fato foi. O cinema escolhido, foi o Reag Belas Artes, na Consolação. Eu já havia assistido a um filme por lá e ficado encantada com toda a estética do ambiente. Porém, desta vez, eu e minha companhia, notamos que a sala tremia, de tempos em tempos. Sem entender o que estava acontecendo e evidenciando nossa síndrome do pânico capaz de antecipar tragédias, ficamos de tal modo amedrontadas, acreditando mesmo sem verbalizar a possibilidade do edifício estar prestes a desabar em nossas cabeças, que não aguentando mais a ansiedade, ela saiu da sala e foi perguntar para o rapaz, que havia gentilmente conferido nossos bilhetes, o que estava acontecendo.

Este, talvez perplexo pela situação nova que se apresentava, ou resignado, acostumado as angústias e fobias alheias, respondeu que era normal a sala ter aquela vibração, toda vez que o metrô passava. E agora que escrevo, fico me perguntando porque não pedi para ela especificar qual foi a reação do menino, e me atentei apenas a resposta. Acredito que seria uma boa pergunta a ser feita. Não sei porque, tenho essa mania, para além das palavras, tentar entender, o que realmente a pessoa pensa.

Depois disso, rimos de toda situação, mas continuamos um pouco assustadas com os tremores. E pensando que talvez não fosse uma boa ideia assistir filmes por ali. O filme já havia começado, a história pouco a pouco foi desenrolando, infelizmente com velhos clichês do cinema nacional. Mas de uma forma geral, no fim, nos sentimos satisfeitas com toda trama.

Mas escrevo, não para falar sobre vergonhas que pessoas com medo de morrer de repente podem passar, mas sim sobre um dos enredos do filme. Uma das personagens principais é uma atriz que está interpretando Florbela Espanca em um filme. E na sua vida pessoal, tenta de alguma forma encontrar a personagem, já que estava sendo desacreditada pelo diretor. Eu já havia ouvido falar sobre essa poeta portuguesa, porém nunca tinha buscado muito sobre ela. Mas sai do filme com essa vontade. No dia seguinte já finalizei uma coletânea de poemas reunidos dela “A mensageira das Violetas”, e li alguns dados sobre sua vida. Nasceu e morreu no mesmo dia, 8 de dezembro, com uma curta diferença de 36 anos entre a data. Coincidentemente, não é a primeira escritora sagitariana a me arrebatar. Síndrome do pânico e agora associações malucas com signos. Freud, analise isso. Mas como ele mesmo disse, um charuto às vezes é apenas um charuto. Talvez, sejam fatos corriqueiros pós 35. Uma mistura estranha entre medo e misticismo. Mas continuando a falar de Florbela, ela também foi revolucionária, entre tantos outros aspectos. Foi uma das primeiras mulheres a entrar na Faculdade de Direito em Lisboa. E foi casada três vezes. Infelizmente, decidiu por conta própria encerrar sua breve e intensa vida.

Mas a verdade é que desde então, penso em dias que eu possa ler seus poemas, com calma, bebendo um bom vinho e ouvindo fado. Sofrer também faz parte da vida. Por que fugimos tanto disso, invés de encarar de corpo inteiro cada momento?

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